Eu, particularmente, tenho uma certa dificuldade de diferenciar um músico de prog-metal de um jogador de ping-pong. Ambos vestem uniformes cheios de logotipos de patrocinadores, e ambos treinam as mesmas jogadas repetidamente com o intuito de alcançar a melhor performance.
No fim, a sensação transmitida pelo prog-metal é somente a de estar dentro de um estúdio cercado por aparelhos e telas digitais com gráficos de equalização sonora. O prato da bateria vibra e a corda do baixo tremula, mas você não é transportado para nenhum mundo fantástico... você só ouve exatamente o prato da bateria vibrando e a corda do baixo tremulando. Você só sente o acolchoado das paredes do estúdio, só vê o gradeado de plástico dos amplificadores, as fileiras de botões e válvulas da mesa de som, os logotipos dos instrumentos musicais. É só disso que se trata o prog-metal.
É aquela mentalidade do esportista que busca atingir uma determinada meta. Não se trata de fantasia, de sonho, de realidades paralelas nos confins metafísicos do universo, como deve ser a verdadeira arte. Não há grandes emoções, não há sequer sentimento genuíno. É só um bando de cabeludo imbecil fazendo da música algo semelhante ao que um bombado de academia faz com seus aparelhos de ginástica.
Afinal, tentemos conceituar um pouco as coisas aqui. O exercício de uma manifestação artística, diferentemente de uma atividade ligada ao mundo dos esportes, deve ter em vista sempre dois planos básicos de ação: um é o plano em que a obra é produzida, o processo de criação em si; o outro é o plano para o qual esse processo se direciona, ou seja, o efeito produzido, o resultado final da arte. Um deve ser o oposto do outro. Ninguém dentre o público precisa ver os cabos dos instrumentos se enroscando atrás do palco, ninguém precisa estar ciente dos takes de uma gravação, das camadas de produção, dos artifícios... ninguém, enquanto ouve uma música, precisa sequer se dar conta da existência de um instrumento musical ali no meio do que está ouvindo. O que importa é tão-somente o som... aliás, mais que isso: o que importa é a sensação que provém desse som, e do qual se pode ver surgir um mundo inteiramente novo, fantástico, abstrato. Você ouve o som da guitarra, mas não é o instrumento ‘guitarra’ que está fluindo em sua mente: é a montanha, a caverna, o castelo, a nuvem, o espaço, o demônio, o anjo... as cores, as expressões, as espirais, as forças cinéticas, os choques... enfim, a pura fantasia.
Por isso existem esses dois planos distintos na arte. Um só pode ser de conhecimento do artista, pois é onde ele cria todas essas coisas na meditação profunda de seu estúdio, onde ele, oculto atrás da cortina e apoiado em seus artifícios, prepara toda a fantasia. O segundo plano, da própria manifestação daquilo que é criado, já é o mundo aberto a quem irá apreciar a obra em si, e portanto sem que se possa, nesse momento de apreciação, entrever aquele outro plano por trás. É precisamente como num show de mágica: você só se encanta pelo truque, só se afeta pela ilusão, se o mágico não deixa à vista o coelho debaixo da mesa.
Mas essa noção não é compreendida no prog-metal, e, dessa forma, a graça da coisa, para esses cabeludinhos imbecis que a praticam, parece estar inteiramente concentrada no primeiro plano. Eles não criam nada, no fundo... eles, como “criadores” (de fato, apenas dissimuladores), é que desejam ter a atenção toda para si: o outro mundo não lhes interessa; o que lhes interessa é o próprio mundinho de masturbação pseudo-criadora. Pois esses tipos imaginam que a arte é como uma espécie de exercício muscular, em que a admiração do público deve recair sobre a competência que fulano tem para executar certos movimentos com as mãos, com os pés, com as cordas vocais, com as nádegas (enfim, para mexer rapidamente os membros de lá pra cá)... e assim para que se possa, de algum modo, reconhecer o valor do músico no simples fato de ele ter treinado bastante uma determinada técnica. Mas é por essa razão que nunca se vai a lugar nenhum ouvindo prog-metal: você permanece ali no aperto do estúdio, sentindo a brisa do ar-condicionado... vendo os cabeludos punhetarem com seus equipamentos, e mais nada.
Aliás, é por isso que esse tipo não é capaz de desenvolver nenhuma sensibilidade de timbre, de textura sonora. O som remete sempre à idéia de um mero equipamento eletrônico, de algo que estaríamos vendo numa loja da Sony... ou seja, aquela textura homogênea, de um ambiente meio laboratorial, com um vendedor querendo te convencer do quão cristalino é o som, de quão boa é a performance do aparelho. Em três palavras: musiquinha de workshop.