Após ouvir o que uma típica representante da política socialista tem a dizer sobre sua tão generosa e poética ideologia, e de seu coitado Marx, vejamos o que o próprio tem a dizer.
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“Um espírito podre está se fazendo sentir em nosso Partido na Alemanha, não tanto entre as massas mas entre os líderes (alta classe e ‘trabalhadores’).
O compromisso com os lassalleanos [seguidores de Lassalle, os social-democratas] também tem nos levado ao compromisso com outros elementos desfalcados; em Berlim (p. ex., Most), com Dühring e seus ‘admiradores’, mas também com todo um bando de estudantes imaturos e doutores super-sensatos que desejam dar uma orientação mais ‘elevada e idealista’ ao socialismo, isto é, substituindo os fundamentos materialistas (que exigem um sério estudo objetivo de qualquer um que tente aplicá-los) pela mitologia moderna com suas deusas da Justiça, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Dr. Hochberg, que publica o Zukunft (Futuro), é um representante dessa tendência e já ‘se comprou’ ao partido — com as mais ‘nobres’ intenções, suponho... contudo eu não dou a mínima para ‘intenções’.
Os próprios trabalhadores, quando deixam de trabalhar e se tornam escritores profissionais como o Sr. Most e sua laia, incitam sempre algum malefício ‘teórico’ e estão sempre prontos a se ligarem aos imbecis da alegada casta ‘culta’. Especialmente o socialismo utópico, que por décadas e com muito trabalho e esforço nós temos limpado da cabeça dos trabalhadores alemães — e de cuja libertação os tem feito, na teoria e na prática, superiores aos franceses e ingleses —; o socialismo utópico, jogando com imagens fantasiosas da futura estrutura social, está agora tumultuando de uma forma muito mais infrutífera, comparada não só com os grandes utópicos franceses e ingleses, mas com... Weitling. Naturalmente que o utopismo, que no momento anterior ao socialismo materialista-crítico continha seus germes, surgindo agora depois desse só pode ser algo tolo — tolo, obsoleto e basicamente reacionário.”
— KARL MARX (Carta a Friedrich Adolph Sorge, 19 de Outubro de 1877)
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“É que quando o rapazinho [‘o corcundinha animado’ Wedde] estava em Londres pela primeira vez eu usei a expressão ‘mitologia moderna’ para descrever as deusas da ‘Justiça, Liberdade, Igualdade etc.’ que agora estão novamente em voga; isso gerou nele uma profunda impressão, uma vez que ele próprio havia feito muito à serviço dessas altas entidades.”
— KARL MARX (Carta a Friedrich Engels, 1 de Agosto de 1877)
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“Cada governo provisório que se forma após uma revolução requer uma ditadura, e por sinal uma ditadura enérgica. Desde o início nós culpamos Camphausen por não ter agido de uma maneira ditatorial, por não ter imediatamente esmagado e removido os restos da antiga instituição. (...) Nunca se deve ter hesitação em empregar medidas de bem-estar social (medidas públicas salutares) e medidas ditatoriais contra as forças democráticas.”
— KARL MARX (Artigo de Neue Rheinische, 13 de Setembro de 1848)
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Afinal, o marxismo teria sido deturpado por regimes ditatoriais... ou não seria ele já deturpado em si mesmo?
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